Saturday, March 31, 2007

Espiral

A vontade de morrer cresce cada vez mais, pergunto-me porque me levantei em primeiro lugar...O que tinha para voltar onde nunca pertenci.

Nunca pertenci, não pertenço, nem pertencerei...Só há um sítio onde até hoje fui eu. Um local temido por muitos, destestado por outros, adorado por alguns que não o compreendem.

Enquanto uns buscam por imortalidade, eu busco por mortalidade...Algo que me faça temer a morte, algo que me faça sentir bem como a ausência do ser me faz. Um local tão deserto onde nem a erva daninha cresce... Onde só de nós depende um fôlego, uma vontade. Sempre vivi por mim, de mim e para mim. Durante breves momentos houve quem partilhasse a verdadeira viagem, mas nunca por muito. Por várias razões, desgaste, medo, incompreensão, abandono, entre outros.

A dependência é algo que nos assusta a todos, seja pelo facto da dependência ou por não ter em quem depender... Em quem não confia inteiramente em muita gente, depender de uma pessoa que seja já é problema de sobra... Quem sempre trilhou o seu caminho totalmente sozinho, com as suas aspirações, medos e ódios; nunca conseguirá confiar em muita gente. O que gera um problema, pois quando confia sobrecarga essa pessoa e acaba por afastar toda a gente à sua volta.

Voltando ao seu recanto, onde apenas a morte sabe o caminho, jurando nunca mais voltar e sempre a cometer os mesmos erros. É isso que a vida é, uma roda onde repetimos os mesmos erros apenas com mascaras diferentes. Procuramos significado onde não o há, nunca houve. Apenas vivemos para sofrer, mascaramos o fundamental com falsos momentos de alegria onde pensamos que é esse o verdadeiro significado. Sabendo que nada fica na mesma e que a dor está apenas ao virar de um esquina. Continuamos a procurar algo que não percebemos, a felicidade, e por isso continuamos na roda, na espiral. A compensar todo o sofrimento com uma busca fútil de felicade. Sei que nunca o fui, pelo menos verdadeiramente, continuo apenas infeliz, mais ou menos dependendo dos dias e situações.

Da dor dizem que saimos mais fortes, aprendemos. Ao mesmo tempo dizem que aprendemos até morrer. Logo concluí-se que sofremos até morrer. Mas e se morremos tantas vezes que apenas se sente o sofrimento a aumentar de cada vez que o fazemos, qual é a motivação de que temos para nos levantar-mos no dia seguinte. Porque não largar tudo de uma vez...porque não morrer de forma tão atroz quanto consiguamos imaginar e parar de sofrer? Adoramos sofrer? Quando é o suficiente? Não sei... neste momento apenas sinto cansaço, saudade e mágoa.

É um daqueles dias onde apenas morrer nos parece bem. Voltar a abrir a nossa campa, cavá-la mais fundo que antes para não sairmos tão facilmente dela. Não voltar a sair para cometer os mesmos erros. Esperar apenas que o corpo apodreça.

Se algum dia passarem pela minha sepultura não chorem, foi uma escolha. Quem sabe se não a única para mim.


Tormentedly Yours

Mente Atormentada

Noite de Tormenta

Mais uma noite, agora que posso pensar, agora que já não tenho vozes à minha volta, agora que só a solidão me enche o espírito; sinto necessidade de arrumar a minha mente, o meu antro.

Farto da falsa sinceridade, farto da necessidade recorrente do 'estás bem?', se estivesse bem ou com cara de quem está bem estariam a perguntar-mo? Porque não a simples pergunta 'o que é que se passa?'. É certo que iria fugir a essa pergunta como o faço sempre, como me treinei a fazê-lo.

Sempre fui um pilar, em mim tudo se inicia e tudo acaba...Toda a força, dor, alegria, tristeza sempre nasceram e morreram em mim...Nunca depender, essa foi/é a maneira escolhida.

A dependência foi/é sempre algo rejeitado....Partilhar também o passou a ser...Sentimentos que apareciam, deixaram de o fazer pois já não havia razão para existirem. Serviam apenas para baralhar uma equação já de si complicada.

Por muito calejado que se esteja, há sempre aqueles momentos em que somos apanhados desprevenidos e aí pouco se pode fazer...Cometem-se os mesmos erros. Sentir é algo difícil, ou mesmo algo impossível...Ao ter-se adoptado uma equação de vida e no momento em que se está na última transformação para a sua resolução, opta-se por adicionar mais uma variável à equação e dúvidar de todo o raciocínio para trás.

Sempre racionalizei a vida, daí pouco espaço para sentimentos...Pois quando estes aparecem são variáveis às quais se tem de dar significado embora não se perceba a sua origem. Nasce assim o problema, como processar algo que não se percebe a causa? Não o sei fazer, nem decidir sobre tais sentimentos...

Nunca soube, sempre foi algo que não percebi e tentei sempre pensar noutras coisas que não isso. Daí a frieza nos momentos em que todos estão em baixo, daí o apoio quando era preciso. Sempre consegui ouvir e dar conselhos o mais racionais possiveis derivados da falta de sentimentos.

Tudo tem uma explicação, apenas podemos estar a olhar o problema de forma errada...A explicação mais fácil são as hormonas...mas o que é as faz libertar? O que nos fazer sentir a falta de alguém? o que nos faz precisar?

Respostas nunca alcançadas,
poucas vezes procuradas,
demasiadas vezes ignoradas.

Sei que perdi certas coisas na vida, se me fizeram falta não sei...Sempre que tentei entender os sentimentos saí-me mal...Não os percebo, o que não gosto. Se calhar por ter de crescer depressa demais faz-nos isto.

Nunca fui realmente tratado como criança, o que nunca me incomodou... Sempre gostei de responsabilidade... Sempre gostei de poder lutar. Sempre lutei, não sei viver sem luta...

Agora que sou confrontado com outras formas de 'vida', não sei o que fazer... Tão perto de fechar mais um capítulo e tanto medo de fechar o livro...

Tantas vezes me neguei outra forma de vida, pois embora a quisesse não necessitava dela. Contudo à medida que o tempo se esgosta sinto-me um heterónimo de Pessoa que quer largar tudo o que tem e arriscar mais uma vez e arriscar como arrisca uma criança. Sem consequências, sem medos...Livre...Pois só uma criança é livre sem inibições, sem obrigações...

Enquanto acendo mais um cigarro e bebo mais um gole de gin, que já escaceia, penso no que poderá ser, no que não será....Olho para mim e contínuo na mesma...um pilar, que por muito desgastado que esteja não deixa de ser pedra...

Na pedra reside a minha essência...Como se muda a essência de uma pessoa? Sinceramente não sei, já procurei essa resposta...Nunca a encontrei, nunca mudei verdadeiramente. Morri várias vezes apenas para renascer na mesma, somente mais carregado da mesma pedra que me faz.

Como tantos ando perdido no meu próprio mar de indecisões...Não sei o que fazer, esta tentativa de orientação apenas serviu para organizar as dúvidas...Como sempre disse neste local pútrido, não procuro respostas apenas levantar questões....Se algum dia encontrar respostas ficarei contente...

Neste momento só quero uma resposta, uma certeza...o próximo passo da-lo-ei a partir daí...


Tormentedly Yours

Mente Atormentada